sexta-feira, 19 de março de 2010

'O que fizeram foi crime de racismo'

19/3/2010


MATEUS VIEIRA

Jindreir e Dervana, ontem de manhã; Advogado Frederico Depieri defendeu a volta da menina



Ontem de manhã, vários ciganos estiveram na praça Tibúrcio Estevam de Siqueira (Praça do Fórum) em manifesto ao caso de Dervana Dias, que foi separada da filha de 1 ano e 2 meses. Na opinião de Márcia Yáskara, do Centro de Estudos e Resgate da Cultura Cigana (Cerci) e Associação de Preservação da Cultura Cigana, a forma como ocorreu o fato configura crime de racismo. "Cigana não pede esmola; lê sorte e vende artesanato. Quem renega a cultura de um povo pratica o genocídio deste povo", declara Márcia, que é jornalista e vive em São Paulo.

Segundo
ela, o vídeo contendo as imagens da separação entre mãe e filha foi enviado para entidades ciganas na Europa e outros continentes. "Todos estão estarrecidos. Não há uma política que nos favoreça e até hoje o povo continua desconhecendo a nossa cultura", afirma. Azimar Orlow, também do Cerci, acrescenta que é comum, nos dias de hoje, ver falsos ciganos pelas ruas. "Está cheio de gente por aí que usa a nossa cultura. Mas são falsos ciganos. A Dervana é cigana mesmo, uma pessoa simples. Faltou respeitá-la com dignidade, pois foi uma cena dantesca, horrorosa."

Segundo elas, existem cerca de 600 mil ciganos em todo o Brasil. "É difícil estimar um número certo, porque eles ficam circulando, são nômades", justificam. Dervana Dias, 24 anos, é casada com o autônomo Jindreir Ferreira, 23, e conta que tem casa alugada em Campinas. Ela teria vindo a Jundiaí pela primeira vez, quando a filha foi retirada de suas mãos, pela Guarda Municipal. "Eu estava lendo a mão das pessoas e vendendo artesanato. Foi muito errado o que fizeram com a gente", contesta. Ontem pela manhã, antes de buscar a menina, Dervana foi até o abrigo onde estava a menina, de 1 ano e 2 meses.

"Ela está chorando muito, mas está bem. Só toma leite, mas quase não está comendo", relata a mãe, que só tem esta filha. O casal é natural de Jacutinga (MG) e está junto há 8 anos, sendo dois em Campinas. Pela manhã, os dois estavam confiantes de que teriam a menina de volta. O advogado contratado pela família, Frederico Depieri, pediu em caráter de urgência a audiência com o juiz Jefferson Barbin Torelli e também afirmou que a tendência seria a Justiça devolver a criança ainda ontem.

"Vamos mostrar que existe família constituída e estruturada, com condições de criar a criança. Em nenhum momento foram constatados maus-tratos. A criança está bem", ressalta. Para o advogado, "não havia motivos para uma atitude daquela natureza; uma cena tão forte (em relação à retirada da criança dos braços da mãe). "Em nenhum momento esta mãe foi processada. Não há crime."

PAULA MESTRINEL

Fonte: http://www.portaljj.com.br/interna.asp?int_id=107907